quarta-feira, 6 de março de 2013


A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817.

 

 

 

                                                                                      Por Antonio Candido de Souza







     Desde  a primeira metade do século XVII quando das invasões estrangeiras ao território brasileiro, notadamente a invasão ao território pernambucano((1630/1654), formou-se no Brasil o sentimento nativista,  os brasileiros sentiram que unidos poderiam implantar aqui uma Pátria, prescindindo, inclusive ,do jugo português. A partir daí muitos movimentos se fizeram presentes ao longo da história; Bernardo Vieira de Melo, em 1710  fez ecoar o primeiro grito de república no senado da câmara em Olinda, gesto este que lhe valeu terminar os dias de vida no calabouço da prisão do Limoeiro.
     Felipe dos Santos, em 1720 nas Minas Gerais, também, teve suas idéias de liberdade, tendo ganhado a morte, pois seu corpo foi amarrado a cavalos e dilacerado nos calçamentos de sua cidade; Tiradentes, como todos sabem, em 1789, foi enforcado e  teve o seu corpo esquartejado em praça pública, e ainda o terreno onde se erguia sua casa, salgado, para que nem vegetação nascesse, por defender, também, os ideais de liberdade de um povo oprimido por severas restrições políticas e econômicas.
     Em 1796, meus senhores, o sonho de liberdade voltou a Pernambuco, é fundado nesta época, por Arruda Câmara, que se formara em medicina e ingressara da maçonaria em Montpellier – França, o Areópago de Itambé (que veio ser a primeira loja franco-maçônica do Brasil), na confluência dos estados de Pernambuco e Paraíba; ali, embalados pelos sonhos e pelo lema da revolução francesa, de (Igualité, Fraternité e Liberté) inspirados, também, pelos maçons que fizeram a independência dos Estados Unidos da América, plantaram a semente de uma república em nosso solo, antecipando-se em quase um século àquela realização.
     Com a expansão dos ideais, chamados de franceses, difundiu-se, não só na Europa, como também, na América a franco-maçonaria, sociedade secreta, à época, não vinculada a religião dominante, e defensora de ideais libertários. Pernambuco, sendo uma capitania rica e de grande atividade comercial e cultural, logo absorveu os ideais, tornando-se assim, um centro de atuação maçônico dos mais importantes do país, fundando-se lojas as mais diversas como a Academia dos Suassuna no Cabo, sob a liderança de Francisco de Paula Cavalcanti Albuquerque e Academia Paraíso sob a liderança do Padre João Ribeiro.
     Em 1817, governava Pernambuco Caetano Pinto de Moraes Miranda Montenegro, político dúbio, sem grande pulso, num momento em que Pernambuco passava por uma crise econômica, já que com a vinda da família real para o Brasil, a carga tributária havia sido aumentada, havia, também, o declínio de preço do açúcar e do algodão, nossos principais produtos, no mercado externo. Figuras de projeção na sociedade Pernambucana, então, começaram a conspirar em torno de ideais libertários. Sabedor disso, o governador manda então que Oficiais portugueses efetuem a prisão dos conspiradores, tendo na ocasião havido revolta por parte de Oficiais brasileiros, quando ao receber ordem de prisão o Capitão João de Barros Lima (o famoso Leão coroado da nossa história), após ser insultado pelo Brigadeiro português Manoel Joaquim Barbosa de Castro, desembainhou sua espada matando-o, sendo secundado nessa ação pelo Capitão José Mariano. Estabeleceu-se o caos, as forças revoltosas tomaram a cidade e o governador refugiou-se no Forte das Cinco Pontas, tendo, no dia seguinte, 7 de março, entregue a fortaleza ao líder liberal José Luís de Mendonça e seguido para o Rio de Janeiro. Aqui, se estabelece uma junta governativa composta por cinco membros: Domingos José Martins, pelo comércio, José Luís Mendonça, pela Magistratura, Domingos Teotônio Jorge, pelos militares, Padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, pelo clero e Manoel Correia de Araújo, pelos proprietários rurais.
     Após esses acontecimentos a revolução se alastrou por diversas vilas, destacando-se Itamaracá conduzida pelo Padre Pedro de Souza Tenório, pelo morgado do Cabo Francisco Paes Barreto, bem como pelos irmãos Cavalcanti de Albuquerque, descendentes de Jerônimo de Albuquerque, que marcharam para o Recife e aderiram a revolução.
     A fim de não ficar isolado, Pernambuco enviou emissários às capitanias vizinhas: para a Bahia enviou o ex-padre José Ignácio Ribeiro de Abreu e Lima, o chamado Padre Roma, que ao desembarcar de uma jangada foi preso por ordem do Conde dos Arcos, processado sumariamente e arcabuzado em 29 de março, tendo seu filho Capitão Abreu e Lima (depois Marechal e um dos Libertadores da América) assistido a execução.
     Ao Ceará foi enviado o seminarista José Martiniano de Alencar que se dirigiu ao Crato, onde residia sua mãe Dona  Bárbara de Alencar, tendo tentado levantar a vila, mas logo foi preso. O jovem seminarista teve grande atuação política no império, sendo o pai do grande romancista da língua portuguesa José de Alencar, autor de Iracema, o Guarani, Tronco do Ipê etc.
     Na Paraíba e no Rio Grande do Norte, os revolucionários tiveram um sucesso rápido, tendo o Capitão Manoel Clemente Cavalcanti marchado com homens a seu comando e ocupado, com facilidade, a capital. No Rio Grande do Norte o movimento foi comandado pelo Senhor de Engenho André de Albuquerque Maranhão, o qual com um jovem oficial chamado José Peregrino, marchou sobre Natal, ocupando-a.
     A Reação da corte não se fez esperar, já no dia 10 de abril, Recife se encontrava bloqueada por três navios enviados da Bahia, por terra o Marechal Cogominho Lacerda a frente de força de linha, foi arregimentando combatentes no norte da Bahia e em Sergipe, tendo na sua penetração nos territórios insurretos mantido pequenas escaramuças, culminando com a batalha  do Trapiche, em Ipojuca.
     Dominada a revolução, tratou-se de punir os revoltosos, sendo levados para a Bahia Domingos José Martins, José Luís de Mendonça e o Padre Miguelinho, sendo todos sumariamente executados. Em Pernambuco foram presos e executados Domingos Teotônio Jorge, José de Barros Lima (Leão coroado), Antonio Henrique Rabelo e o Padre Pedro Tenório.
     Muito sangue foi derramado para reprimir a liberdade, no entanto o ideal permaneceu imutável nos corações pernambucanos, não morria ali, a característica maior do nosso povo; diminuiu-se a chama que mais tarde se reacenderia na Confederação do Equador.
     A Revolução de 1817 foi um movimento de cunho libertário que visava à deposição de um regime absolutista, quando então se procurou implantar um sistema autônomo de governo, algo avançado para a época; revelou novos ideais e plantou nos espíritos a semente da liberdade, semente esta jogada no solo da Pátria pelos nossos confrades que tão bem souberam cultivar o sonho de uma sociedade mais justa; que a tríade Igualdade, Fraternidade e Liberdade, continue perene em nossos corações e, que lastreados nisso, construamos um mundo mais justo e mais perfeito para o bem estar do homem  e glória do Grande Arquiteto do Universo.
     Salientamos que de todos os nomes componentes do novo governo revolucionário, só não era maçom o Senhor Manoel Correa de Araújo, o que demonstra o papel da maçonaria no movimento.
                                              

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