segunda-feira, 26 de novembro de 2018






Representação artística da sonda Insight pousando em Marte. © Foto: HO / NASA/JPL-CALTECH / AFP Representação artística da sonda Insight pousando em Marte.
A sonda Insight, da agência espacial americana Nasa, pousou na superfície de Marte nesta segunda-feira, 26, após uma perigosa descida que durou seis minutos. A aproximação da nave e o pouso foram transmitidos ao vivo pela agência espacial. 
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A confirmação do pouso ocorreu às 17h53 (horário de Brasília) e foi comemorada por controladores de voo que acompanhavam o procedimento no centro de controle da missão, em Pasadena, na Califórnia. "Aterrissagem confirmada", anunciou um controlador de voo, em meio a aplausos e gritos.  
A sonda, que leva instrumentos para detectar calor e vibrações sísmicas nunca medidas fora da Terra, foi construída para explorar as profundezas do planeta vermelho. O pouso ocorreu depois de a nave percorrer 548 milhões de quilômetros durante uma jornada de seis meses no espaço profundo.
A apreensão para o pouso era grande. "Com Marte nada está nunca garantido. Marte é difícil", resumiu no domingo Thomas Zurbuchen, chefe da seção científica da Nasa, que aprovou essa missão de quase 1 bilhão de dólares.
Às 17h58 (horário de Brasília), a Nasa recebeu a primeira fotografia de Marte enviada pela sonda Insight.

Imagem de Marte transmitida pela sonda Insight © Foto: NASA via AP Imagem de Marte transmitida pela sonda Insight

Outros lançamentos

Esta é primeira vez desde 2012 que um artefato tenta pousar sobre Marte, depois do veículo Curiosity da Nasa, o único atualmente ativo na superfície do planeta vermelho. Só os Estados Unidos conseguiram colocar artefatos no planeta. Mais da metade das 43 tentativas de levar a Marte robôs, satélites ou otros - executadas por agências espaciais de todo o mundo - falharam.

domingo, 25 de novembro de 2018

Como o cérebro humano ficou tãããão grande

Por , em 1.12.2015
Em 1924, o fóssil de um ancestral previamente desconhecido dos seres humanos foi descoberto – o Australopithecus africanus, ou “homem-macaco da África do Sul”. Esse fóssil é importante porque indicou que o hominídeo tinha um cérebro com características humanas, mas muito menor do que os nossos cérebros são hoje.
Na década de 1950, os antropólogos finalmente aceitaram a conclusão de que não tivemos sempre um cérebro excepcionalmente grande. Como chegamos a ele, então?

Boom do cérebro humano

Nas décadas seguintes, descobrindo e comparando outros crânios fósseis, os paleontologistas documentaram uma das transições mais dramáticas na evolução humana. Poderíamos chamá-la de “boom do cérebro”.
Seres humanos, chimpanzés e bonobos se separaram de seu último ancestral comum entre 6 e 8 milhões de anos atrás. Por volta de 3 milhões de anos atrás, o cérebro hominídeo começou uma expansão maciça. No momento em que nossa espécie, Homo sapiens, apareceu cerca de 200.000 anos atrás, o cérebro humano havia aumentado de cerca de 350 gramas para mais de 1.300 gramas.
Em outras palavras, em 3 milhões de anos, o cérebro humano quase quadruplicou o tamanho que seus antecessores tinham alcançado ao longo dos últimos 60 milhões de anos de evolução primata.

Como e por que o cérebro humano tornou-se tão grande tão rapidamente?

Há uma abundância de teorias, especialmente a respeito do porquê: redes sociais cada vez mais complexas, uma cultura construída em torno do uso da ferramenta e colaboração, o desafio de se adaptar a uma condição climática mais dura, entre outras pressões evolutivas que poderiam ter levado a cérebros maiores.
Embora estas possibilidades sejam fascinantes, são extremamente difíceis de testar. Nos últimos oito anos, no entanto, os cientistas começaram a responder a parte do “como” – de que forma o cérebro humano se expandiu e nossa fisiologia se reconfigurou para acomodá-lo.

Por que nosso cérebro é mais inteligente

Já falamos aqui do trabalho da Suzana Herculano-Houzel, brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro que dissolve cérebros em uma sopa para estudar seu conteúdo celular. Ela já conseguiu contar quantos neurônios existem em cérebros de diferentes mamíferos, mostrando que tamanho não é documento.
O cérebro humano tem 86 bilhões de neurônios: 69 bilhões no cerebelo, que nos ajuda a orquestrar as funções corporais e movimentos básicos; 16 bilhões no córtex cerebral, responsável por nossos talentos mentais mais sofisticados, como autoconsciência, linguagem, resolução de problemas e pensamento abstrato; e 1 bilhão no tronco cerebral e suas extensões para o núcleo do cérebro.
Em contraste, o cérebro do elefante, que é três vezes maior, tem 251 bilhões de neurônios em seu cerebelo, que ajuda a administrar seu tronco versátil e gigante, mas apenas 5,6 bilhões em seu córtex.
Com base em seus estudos, Herculano-Houzel concluiu que os primatas desenvolveram uma maneira de “encaixar” muito mais neurônios no córtex cerebral do que outros mamíferos. Os grandes macacos são minúsculos em comparação com elefantes e baleias, mas seus córtices são muito mais densos: orangotangos e gorilas têm 9 bilhões de neurônios corticais e chimpanzés têm 6 bilhões.
De todos os animais, nós somos os que temos mais neurônios corticais. “Essa é a diferença mais evidente entre os cérebros humanos e não humanos”, disse Herculano-Houzel.

A troca metabólica

O cérebro humano também é único em sua gula. Embora represente apenas 2% do peso do corpo, consome 20% da sua energia total. Em contraste, o chimpanzé necessita apenas da metade disso.
Como o corpo humano se adaptou para sustentar um órgão singularmente voraz? Em 1995, Leslie Aiello e Peter Wheeler propuseram uma hipótese que argumentava uma “troca metabólica”. Para o cérebro crescer, outros órgãos, como o intestino, tiveram de encolher, e a energia que normalmente iria para eles foi redirecionada para a cabeça. De fato, primatas com cérebros maiores têm intestinos menores.
Alguns anos mais tarde, o antropólogo Richard Wrangham construiu sobre essa ideia, argumentando que a invenção do alimento cozido foi crucial para a evolução do cérebro humano. Alimentos cozidos são muito mais fáceis de digerir do que os crus, produzindo mais calorias com menos trabalho gastrointestinal.
Outros pesquisadores propuseram que trocas semelhantes podem ter ocorrido entre o cérebro e o músculo, dada a forma como os chimpanzés são muito mais fortes do que os humanos.

As marcas dessa troca no genoma

Coletivamente, essas hipóteses e observações são convincentes. Mas são baseadas nos ecos de mudanças biológicas que ocorreram há milhões de anos. Para ter certeza do que aconteceu, os cientistas mergulharam mais fundo do que a carne, em nosso genoma.
Cerca de oito anos atrás, Gregory Wray, biólogo evolucionário da Universidade de Duke (EUA) começou a investigar famílias de genes que influenciam o movimento da glicose que dá energia para as células. Uma família de genes é especialmente ativa no cérebro, enquanto outra é a mais ativa no músculo.
Wray e sua equipe coletaram amostras de cérebro, músculo e fígado de seres humanos falecidos e chimpanzés e tentaram medir a atividade dos genes em cada amostra. Os pesquisadores descobriram que o gene que transporta glicose no cérebro foi 3,2 vezes mais ativo no tecido cerebral humano do que no de chimpanzés, enquanto que o gene do músculo foi 1,6 vezes mais ativo nos chimpanzés. Isso confirmou a hipótese da troca metabólica. Ainda assim, os dois genes se comportavam de forma semelhante no fígado de ambas as espécies.
Dado que as sequências de genes humanos e chimpanzés eram quase idênticas, algo mais devia explicar seu comportamento variável. Wray e seus colegas logo descobriram algumas diferenças intrigantes entre sequências reguladoras de DNA que estimulam ou reprimem a atividade dos genes.
Nos seres humanos, mas não em chimpanzés, os genes tinham acumulado mais mutações do que seria de se esperar por acaso, indicando que estas regiões haviam sido submetidas a evolução acelerada. Em outras palavras, houve uma forte pressão evolutiva para modificar as sequências de transporte de glicose em humanos, de uma forma que minou a energia a partir do músculo, canalizando-a para o cérebro.

Mais evidências

No ano passado, o biólogo computacional Kasia Bozek, agora no Instituto de Okinawa para a Ciência e Tecnologia no Japão, publicou um estudo semelhante que examinou o metabolismo de um ângulo diferente.
Além de olhar para a expressão do gene, Bozek e seus colegas analisaram os níveis de metabólitos, um grupo diversificado de pequenas moléculas que inclui açúcares, ácidos nucléicos e neurotransmissores. Diferentes órgãos têm perfis de metabólitos distintos, dependendo do que fazem e quanta energia necessitam. Em geral, os níveis nos órgãos de espécies estreitamente relacionadas são mais em sintonia do que os níveis entre espécies distantes.
Bozek constatou que os perfis de metabólitos de rins humanos e chimpanzés, por exemplo, eram bastante semelhantes. Mas a variação entre o cérebro humano e o de chipanzés foi quatro vezes maior do que seria esperado com base na taxa de evolução típica. “Um único gene, provavelmente, pode regular uma série de metabólitos”, disse Bozek. “Assim, mesmo que a diferença não seja enorme no nível do gene, você pode obter uma grande diferença nos níveis de metabólitos”.
Essa diferença de metabolismo também pode explicar porque somos mais fracos que nossos parentes primatas.
Outra evidência corroborativa veio da pesquisa de Debra Silver, especialista em desenvolvimento do cérebro da Universidade de Duke, que identificou mutações genéticas relevantes do passado evolutivo do nosso cérebro, e testou essas mutações no genoma de ratos em laboratório.
Ela se concentrou no HARE5, uma sequência cheia de mutações em humanos que parecia controlar genes que orquestram o desenvolvimento do cérebro. A versão humana do HARE5 difere de seu correlato chimpanzé por 16 letras de DNA.
Uma cópia humana ou de chipanzé foi introduzida em um grupo de ratos. Depois de nove dias de desenvolvimento, os roedores com uma cópia humana tinham um córtex muito mais sofisticado – a produção do cérebro foi 12% maior.

Conclusão

Essas novas pesquisas são emocionantes e respondem a várias questões de como nosso cérebro têm se tornado tão grande.
No entanto, vai demorar para entendermos totalmente essa questão. “É um erro pensar que podemos explicar o tamanho do cérebro com apenas uma ou duas mutações. Nós provavelmente adquirimos muitas mudanças pequenas, que de certa forma estão cooptando as regras de desenvolvimento do cérebro”, argumenta Silver.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Cientistas estão tentando descobrir se nós somos computadores quânticos

Por , em 29.03.2018
Os cientistas estão tentando aos poucos avançar para finalmente chegar à construção de computadores quânticos funcionais. Estes computadores teriam uma capacidade de processamento de dados inimaginável, muito maior do que os melhores computadores que temos hoje em dia. Mas, considerando quão incríveis são nossos cérebros e as coisas que eles podem fazer, será que nós mesmos não somos computadores quânticos (que, ironicamente, estão tentando construir outros computadores quânticos)?
Essa é uma pergunta que o físico teórico Matthew Fisher, da Universidade da Califórnia, nos EUA, vem se fazendo há anos. Agora, como diretor científico do novo Quantum Brain Project (QuBrain), ele está vai testar se nossos cérebros são capazes de realizar processos de computação quântica
“Poderíamos ser, nós mesmos, computadores quânticos, em vez de robôs inteligentes que estão projetando e construindo computadores quânticos?”, pergunta Fisher em um release publicado no site da Universidade da Califórnia.
Nosso cérebro é uma máquina espetacular. Tão espetacular que algumas de suas funções ainda não são completamente compreendidas pela neurociência. O mecanismo que guarda memórias de muito longo prazo e como ele opera, por exemplo, ainda não está claro. A mecânica quântica, que lida com o comportamento da natureza em níveis atômicos e subatômicos, pode ser capaz de desbloquear algumas pistas. E isso, por sua vez, poderia ter grandes implicações em muitos níveis, da computação quântica e ciências dos materiais à biologia, saúde mental e até mesmo à filosofia e a pergunta sobre o que significa ser humano.
A ideia da computação quântica em nossos cérebros não é nova, tendo sido ventilada tanto no campo científico quanto fora dele. Fisher, um especialista de renome mundial no campo da mecânica quântica, identificou um conjunto preciso – e único – de componentes biológicos e mecanismos chave que poderiam fornecer a base para o processamento quântico no cérebro. Ele está lançando a colaboração QuBrain, um projeto composto por uma equipe internacional de cientistas de renome, abrangendo física quântica, biologia molecular, bioquímica, ciência coloidal e neurociência comportamental. O objetivo é buscar evidências experimentais explícitas destes componentes e mecanismos para responder se, de fato, podemos ser computadores quânticos.
“Se a questão sobre se processos quânticos ocorrem no cérebro for respondida de forma afirmativa, isso pode revolucionar nossa compreensão e tratamento da função cerebral e da cognição humana”, prevê Matt Helgeson, professor de Engenharia Química da UCSB e diretor associado da QuBrain.

Qubits orgânicos

A parte mais importante da computação quântica é que os bits regulares dos computadores clássicos – todos aqueles 1s e 0s que armazenam dados – são substituídos por qubits. Os qubits podem ser simultaneamente 1s e 0s, graças à ideia da superposição quântica: a hipótese de que um objeto quântico pode estar em múltiplos estados de uma vez, pelo menos até ser medido.
Tudo isso significa que a computação quântica tem o potencial de criar redes de processamento muito mais complexas do que os computadores atuais podem gerenciar, ajudando-nos a resolver alguns dos problemas mais difíceis da ciência.
A pesquisa de Fisher irá caçar qubits no cérebro. Nos computadores quânticos que estamos tentando construir, os qubits funcionam em ambientes altamente controlados e isolados e a baixas temperaturas. Assim, nosso cérebro quente e úmido não é considerado um ambiente propício para exibir efeitos quânticos.
No entanto, Fisher afirma que os spins nucleares (no núcleo dos átomos, em vez dos elétrons ao redor) podem ser uma exceção à regra. Um dos próximos experimentos tentará examinar se os qubits poderiam ser armazenados nos spins nucleares no núcleo dos átomos, em vez dos elétrons que os cercam. Átomos de fósforo em particular, presentes em abundância em nossos corpos, poderiam atuar como qubits bioquímicos.
“Rotações nucleares extremamente bem isoladas podem armazenar – e talvez processar – informações quânticas em escalas de horas humanas ou mais longas”, diz Fisher.
O experimento que avaliará esta possibilidade irá monitorar as propriedades quânticas dos átomos de fósforo, particularmente o emaranhamento entre dois spins nucleares de fósforo quando ligados em uma molécula em processo bioquímico.
Enquanto isso, Helgeson e Alexej Jerschow, professor de química na Universidade de Nova York, investigarão a dinâmica e o spin nuclear das moléculas de Posner – nano-aglomerados de fosfato de cálcio de forma esférica – e se eles têm a capacidade de proteger os spins dos qubits nucleares dos átomos de fósforo, o que poderia promover o armazenamento de informações quânticas. Eles também explorarão o potencial do processamento de informações quânticas não-locais que poderia ser ativado pelo pareamento e dissociação de moléculas de Posner.
Outros experimentos examinarão o potencial de descoerência, que acontece quando os elos e a dependência entre os qubits começam a se desfazer. Para os nossos cérebros serem computadores quânticos, deve haver uma maneira embutida neles que faça com que nossos qubits biológicos sejam protegidos da descoerência.

Rede quântica de neurônios

Em outro conjunto de experimentos, Tobias Fromme, um cientista da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, estudará a potencial contribuição das mitocôndrias, as subunidades celulares responsáveis ​​pelo nosso metabolismo e pelo envio de mensagens ao redor do corpo, para o emaranhamento e seu acoplamento quântico entre os neurônios. Ele determinará se essas organelas celulares podem transportar moléculas de Posner para dentro e entre os neurônios através de suas redes tubulares.
A fusão e o fissionamento de mitocôndrias poderia permitir o estabelecimento de emaranhamento quântico intra e intercelular. A subsequente dissociação das moléculas de Posner poderia desencadear a liberação de cálcio, ativando a liberação de neurotransmissores e o subsequente disparo sináptico através do que seria essencialmente uma rede quântica de neurônios – um fenômeno que Fromme buscará emular in vitro.
Em outras palavras, os neurotransmissores e o disparo sináptico em nossos cérebros poderiam estar criando redes quânticas acopladas, exatamente como um computador quântico.
A possibilidade de processamento de spin nuclear cognitivo chegou a Fisher em parte por meio de estudos realizados na década de 1980 que relataram uma notável dependência de isótopos de lítio sobre o comportamento de mães-ratos. Embora dado o mesmo elemento, seu comportamento mudou drasticamente, dependendo do número de nêutrons nos núcleos de lítio. O que para a maioria das pessoas seria uma diferença insignificante era para um físico quântico como Fisher uma disparidade fundamentalmente significativa, sugerindo a importância dos spins nucleares. Aaron Ettenberg, professor de ciências psicológicas e do cérebro na UCSB, conduzirá pesquisas que tentam replicar e estender esses experimentos com isótopos de lítio.
“Por mais provável que você julgue a hipótese de Matthew Fisher, testando-a através da abordagem de pesquisa colaborativa da QuBrain, exploraremos a função neuronal com tecnologia de ponta a partir de ângulos completamente novos e com enorme potencial para descoberta”, disse Fromme. Da mesma forma, de acordo com Helgeson, a pesquisa conduzida pela QuBrain tem o potencial de avanços nos campos de biomateriais, catálise bioquímica, emaranhamento quântico em química de solução e transtornos de humor em humanos, independentemente deles acharem processos quânticos no cérebro ou não.
Processos de computação quântica podem eventualmente nos ajudar a explicar e entender as funções mais misteriosas do cérebro, como a forma como nos apegamos às memórias de longo prazo, ou de onde a consciência, a emoção e a consciência realmente vêm.
Estes são processos físicos extremamente complexos, e não há garantia de que vamos obter respostas. Mas mesmo que seja cedo demais para dizer com certeza se o cérebro é um computador quântico ou não, a pesquisa deve revelar muito mais sobre como funciona o mais complicado e incrível dos órgãos. [UCSBScience Alert]

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Físicos russos mostram que universo pode estar cheio de estrelas de matéria escura


Cientistas russos acabaram de teorizar um dos objetos mais bizarros que podem existir no universo. Eles propuseram a existência de uma espécie de “estrela de matéria negra”, que agiria como um átomo gigante. Estas estrelas negras, segundo eles, podem estar escondidas em todo o universo. Tais objetos poderiam ajudar a explicar a matéria escura, o material que não emite luz e representa 27% da energia e 84% da matéria do universo, e também ser responsáveis pelas rajadas brilhantes e rápidas de ondas de rádio cósmicas que já confundiram astrônomos no passado e até alimentaram teorias de possíveis civilizações alienígenas.
Mas como objetos como estes poderiam estar escondidos da vista dos cientistas por tanto tempo? Teoricamente, ao contrário das estrelas normais, estas chamadas estrelas de áxions (partícula hipotética que pode formar a matéria escura) não brilham. Teorias diferentes predizem que os áxions têm uma ampla gama de massas, mas, no geral, espera-se que sejam extremamente leves – milhões de vezes mais leves do que os prótons, por exemplo..
A teoria diz que, se existirem, os áxions dificilmente interagem uns com os outros. Porém, se a gravidade conseguisse juntá-los, eles poderiam formar uma esfera densa com propriedades exóticas, diferente de qualquer outro tipo de estrela. Isso porque os axions são bósons, uma classe de partículas que inclui os fótons, que podem estar no mesmo nível de energia simultaneamente, ao contrário de uma classe diferente de partículas chamadas férmions, que incluem os elétrons e prótons.

Partícula gigante

Em uma estrela de áxions, ou em uma estrela de bósons, cada áxion estaria no nível de energia mais baixo, significando que a estrela inteira teria o mesmo comportamento quântico, como se fosse uma única partícula gigante.
Um objeto tão exótico também é conhecido como um condensado de Bose-Einstein, um tipo de matéria que os físicos criam em laboratórios na Terra, resfriando átomos até quase o zero absoluto. No laboratório, esses condensados ​​também podem formar superfluidos, que fluem sem atrito.
Segundo Dmitry Levkov, físico do Instituto de Pesquisas Nucleares da Academia Russa de Ciências e co-autor do estudo, acreditava-se que a gravidade entre os áxions seria muito fraca para que estas partículas se juntassem. Porém, as novas simulações feitas pelos pesquisadores russos sugerem que estrelas axionais poderiam de fato se formar de maneira rápida (considerando o tempo com que as coisas se formam no universo), dependendo da massa do áxion.
Levkov explica, em matéria publicada no site Live Science, que áxions pesados, chamados áxions QCD, poderiam levar 1 bilhão de anos para formar uma estrela. Porém, áxions leves, cerca de 100 quadrilhões de vezes mais leves do que áxions QCD e chamados de “matéria escura difusa” poderiam levar apenas 10 milhões de anos para construir uma estrela de áxions.
As simulações chegaram a mostrar a estrela de áxions se formando. Diferente de simulações anteriores, que começavam com pequenos pedaços de condensados ​​de Bose-Einstein, que então atraíram uns aos outros através da gravidade para formar estrelas de axion, as novas simulações não tinham nada além de um gás de axions, e os pesquisadores descobriram que uma estrela se formava sozinha a partir disso. “Ficamos muito animados quando vimos a estrela de Bose-Einstein”, diz Levkov na matéria do Live Science. Com o tempo, essa estrela hipotética poderia continuar a acumular áxions e crescer.
“Em nosso trabalho, simulamos o movimento de um gás quântico de partículas de matéria escura que interagem gravitacionalmente com luz. Começamos a partir de um estado virializado com mistura máxima, que é um pouco oposto ao condensado de Bose-Einstein. Após um longo período, 100.000 vezes mais do que o tempo necessário para uma partícula cruzar o volume da simulação, as partículas formaram espontaneamente um condensado, que imediatamente se transformou em uma gota esférica, uma estrela de Bose, sob o efeito da gravidade “, explica Levkov em matéria publicada no site Phys.org.
Levkov e seus colegas concluíram que o condensado de Bose-Einstein pode se formar nos centros de halos de galáxias anãs em um período de tempo menor que o tempo de vida do universo – o que significa que as estrelas de áxions podem existir atualmente.
O Live Science conversou com especialistas que não estiveram envolvidos no estudo para medir a importância da descoberta, e todos afirmaram que este é um passo importante para entendermos a natureza da matéria escura.
“É realmente interessante que apenas a gravidade possa ajudar a formar condensados ​​de Bose-Einstein se for dado tempo suficiente – e que esse tempo é menor que a idade do universo”, afirma Bhupal Dev, físico da Universidade de Washington. “É um bom trabalho. É um importante trampolim para entender a história de tais objetos e, em geral, o áxion da matéria escura”, complementa Sebastian Baum, físico da Universidade de Estocolmo, na Suécia.

Sinais de rádio

As estrelas de áxion também podem produzir sinais detectáveis. Áxions podem decair em fótons, e uma série de reações de partículas de uma estrela de áxions poderia produzir radiação detectável. “Esse efeito é muito pequeno, mas dentro da estrela de Bose, pode ser ressonantemente amplificado, como em um laser, o que pode levar a rajadas de rádio gigantes”, afirmam os pesquisadores.
Da mesma forma, se uma estrela dessas se chocasse com uma estrela de nêutrons, a colisão poderia gerar explosões poderosas de radiação de radiofrequência – explicando, potencialmente, as misteriosas rajadas de rádio rápidas que têm deixado os astrônomos aqui na Terra perplexos. Nos últimos anos, nossos astrônomos detectaram dezenas de poderosos sinais de rádio cósmico de origem desconhecida, provocando uma infinidade de explicações, incluindo a possibilidade de que os feixes fossem provenientes de civilizações alienígenas.
“O próximo passo óbvio é prever o número de estrelas de Bose no universo e calcular sua massa em modelos com matéria escura leve”, conclui Levkov na matéria do Phys. [Live SciencePhys.orgDaily Mail ]

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O HIV surgiu aqui

Por , em 1.11.2018
O HIV surgiu no que hoje se chama República Democrática do Congo em 1920, especificamente na cidade de Kinshasa. Mas como foi possível determinar o local de surgimento dessa doença com tanta certeza?
Na época, o território se chamava Congo Belga, e era uma colônia da Bélgica. No início do século XX, muitos homens jovens chegaram à região tentando fazer fortuna nas minas de ouro, diamante cobalto e cobre da região ou trabalhando construindo a rede ferroviária. Entre 1920 e 1932, 2.450 km de estrada de ferra foram construídos, e o governo investiu pesadamente em infraestrutura das cidades como Boma, Matadi e Leopoldville.
Nesta época, aconteceu a primeira contaminação interespécies, entre chipanzés e humanos. É possível que essas primeiras pessoas contaminadas caçavam ou domesticavam esses animais em suas tribos. Nas décadas seguintes, a doença ficou confinada a pequenas tribos da África Central,

1960 e 1970


Durante as guerras de independência que aconteceram nas décadas de 1960 e 1970 na região e com a movimentação da população em geral, a doença começou a se espalhar pelo mundo, ainda desconhecida pelos cientistas. Ela só foi identificada pela primeira vez em 1981.

Uma questão de oportunidade

O curioso é que dois tipos de HIV surgiram no início do século XX, mas só um espalhou-se de forma rápida. Eles são o HIV-1 grupo M, e o HIV-1 grupo O. Este segundo grupo acabou restrito ao oeste da África, enquanto o primeiro é responsável por 90% das infecções.
Isso sugere que foi a oportunidade, e talvez não a característica do vírus que a ajudou a se espalhar globalmente. “Fatores ecológicos e não evolutivos ajudaram no crescimento rápido”, afirmou Nuno Faria da Universidade de Oxford (Reino Unido) à BBC.
Faria e seus colegas construíram uma árvore genealógica do HIV com a ajuda do genoma do vírus coletado de 800 pessoas infectadas na África Central. Ao comparar a sequência de dois genomas e observar as diferenças entre eles, a equipe conseguiu descobrir quando os dois compartilharam um ancestral em comum.
Todos os genomas do HIV compartilharam um ancestral em comum em 1920. Com esta informação, eles conseguiram apontar o local de origem da doença, a cidade de Kinshasa, atualmente a capital da República Democrática do Congo. [FuturismAvertBBC]