terça-feira, 24 de junho de 2014

Um Diamante Gigante.

Um diamante com o quilate do Sol

Astrônomos encontram estrela anã branca tão fria que carbono assumiu forma cristalizada característica da preciosa gema

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Ilustração mostra o sistema binário composto pelo pulsar e a estrela que os astrônomos acreditam ser como um gigantesco diamante
Foto: B. Saxton/NRAO/AUI/NSF
Ilustração mostra o sistema binário composto pelo pulsar e a estrela que os astrônomos acreditam ser como um gigantesco diamante - B. Saxton/NRAO/AUI/NSF

RIO – Cobiçados por sua beleza e raridade, os diamantes da Terra costumam ser formados nas enormes pressão e temperatura nas profundezas do planeta. No espaço, no entanto, diversos fenômenos podem levar o carbono a assumir a forma cristalizada característica destas joias. Agora, astrônomos acreditam ter encontrado uma estrela moribunda que acabou se transformando em um gigantesco diamante com massa equivalente à do Sol.
- Realmente é um objeto notável – comenta David Kaplan, professor da Universidade de Wisconsin-Milwaukee e principal autor de artigo sobre a descoberta, publicado na edição atual do periódico científico “Astrophysical Journal” . - Estas coisas devem estar lá fora, mas, como são muito tênues, são muito difíceis de serem encontradas.
A “estrela-diamante”, localizada a cerca de 900 anos-luz de distância na direção da constelação de Aquário, é do tipo conhecido como anã branca, que representa um dos estágios finais da vida de astros parecidos com o nosso próprio Sol. Após esgotarem todo seu combustível nuclear, estas estrelas, compostas principalmente de carbono e oxigênio, entram em colapso e encolhem de um diâmetro de mais de 1,6 milhão de quilômetros para o tamanho aproximado da Terra, cerca de 12 mil quilômetros, lentamente esfriando ao longo de bilhões de anos até se tornarem anãs negras e deixarem de brilhar para sempre.
Segundo os astrônomos, a “estrela-diamante” na verdade parece ser a anã branca mais fria já encontrada, tão fria que o carbono nela se cristalizou na preciosa gema. Ela faz parte de um sistema binário em que tem como companheira uma outra estrela colapsada de forma ainda mais radical, resultado de uma explosão em supernova. Conhecidos como pulsares, estes objetos são estrelas de nêutrons tão densas que concentram uma massa superior à do Sol em um diâmetro ainda bem menor que o de uma anã branca, de menos de 40 quilômetros. Os pulsares ganharam este nome por emitirem pulsos regulares de rádio que podem ser detectados aqui na Terra.
Neste caso, foi apenas graças à existência do pulsar que os astrônomos puderam não só localizar a anã branca como calcular sua massa e inferir que ela é um imenso diamante. Batizado PSR J2222-0137, as primeiras observações do pulsar revelaram que ele estava girando a mais de 30 vezes por segundo e gravitacionalmente preso a uma companheira invisível, com o sistema completando uma órbita a cada 2,45 dias.
Usando a Teoria da Relatividade de Einstein, os pesquisadores estudaram como a gravidade da estrela companheira deformava o espaço, provocando atrasos nos sinais de rádio emitidos pelo pulsar, o que permitiu a eles determinar as massas individuais de ambos objetos em 1,2 vezes a do Sol para o pulsar e de 1,05 a do Sol para a estrela companheira. Os dados também indicaram ser muito pouco provável que esta companheira fosse outra estrela de nêutrons, já que suas órbitas são muito estáveis para que duas supernovas tivessem acontecido em um mesmo sistema, restando apenas a explicação de que seria uma anã branca.
Com a localização precisa do sistema em mãos e sabendo o quão brilhante uma anã branca deve ser a esta distância, os astrônomos acreditaram que seria possível vê-la em luz visível ou infravermelho. Mas observações feitas com alguns dos maiores e mais sensíveis telescópios disponíveis não mostraram nada no local.
- Nossas imagens deviam nos mostrar uma companheira cem vezes mais tênue que qualquer outra anã branca em órbita de uma estrela de nêutrons e pelo menos dez vezes mais tênue que qualquer outra anã branca conhecida, mas não vimos nada – conta Bart Dunlap, aluno da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, e outro integrante do grupo responsável pela descoberta. - Se há mesmo uma anã branca lá, e quase certamente há, ela deve ser extremamente fria.
Com uma temperatura de superfície estimada em não mais 2,7 mil graus Celsius, os astrônomos acreditam que esta anã branca deve ser formada em grande parte por carbono cristalizado, sendo assim o equivalente a um enorme diamante.


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